Maria Teresa Rijo da Fonseca Lino

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Maria Teresa Lino, professora catedrática jubilada da Universidade Nova de Lisboa deixou-nos nos últimos dias de dezembro de 2019.

A Teresa foi a responsável pelo desenvolvimento dos estudos do léxico e pela introdução da Terminologia, no final dos anos oitenta do século XX; nos currículos do ensino superior português e, mais recentemente, grande apoiante de medidas semelhantes em vários países lusófonos. Formou dezenas de professores e investigadores em todos os cantos da lusofonia e da francofonia, estudando e fazendo estudar a neologia, a lexicologia e a terminologia nos espaços da latinidade, incluindo não só as línguas neolatinas mas também as línguas banto, o mandarim, o árabe.

A Teresa trabalhou e fez trabalhar sobre um vasto repertório de línguas, observando a criação neológica, refletindo sobre sistemas lexicais e desenvolvendo terminologias monolingues e/ou multilingues. O português europeu e o francês foram sempre as línguas de partida, às quais foram acrescentadas variantes americanas e africanas destas línguas, dezenas de línguas africanas (o wolof e as línguas Banto de Angola, os crioulos de Cabo Verde e Guiné- Bissau, o árabe (não conseguiu completar um dicionário bilingue português-árabe - mas também tamazigh), o chinês (coordenou um dicionário bilingue português-chinês), etc.

A Teresa criou a Associação Portuguesa de Terminologia, foi fundadora da Rede Panlatina de Terminologia - REALITER), teve funções científicas da AUF e na rede de Lexicologia, terminologia e Tradução (LTT), etc, etc.

Foi uma viajante incansável entre Lisboa, Paris, Luanda, São Paulo e, recentemente, Rabat, entre muitos outros destinos. A sua voz conciliadora e as suas opiniões imparciais e firmes eram muito solicitadas em todo o lado. Em Portugal, ela viajava constantemente entre universidades para júris e concursos, sempre de carro (no "rodinhas").

Como professora emérita durante dois anos, as suas atividades de investigação e a sua participação em comissões de avaliação continuaram, embora tenha passado um pouco mais de tempo em Tramagal para cuidar das vinhas e do vinho, do seu museu de bonecas e, acima de tudo, dos seus cães.

Para muitos de nós foi um raro privilégio trabalhar, aprender e conviver com a Teresa. A perseverança, a sabedoria, o sorriso tímido, mas assertivo, a amizade e a profunda humanidade a que durante muitas décadas nos habituou deixaram-nos fisicamente órfãos mas profundamente gratos e com a responsabilidade pelo legado que perpetuará a sua memória.

 Com um sorriso franco e disponibilidade constante, sempre cordial, amigável, muitas vezes visionária e com uma grande simplicidade que nos impunha responsabilidade e rigor, a Teresa abriu todos portas e caminhos e construiu pontes.

Todos aqueles que tiveram o prazer de a conhecer durante um período de quase 40 anos em diferentes partes da Europa, África, América e Ásia, sabem o quanto sentimos a falta de Teresa. Fez escola, deixando a sua marca em centenas de universidades, centros de investigação e redes. Orientou dezenas de teses de doutoramento e dissertações de mestrado (orientar para Teresa significava seguir de perto desde o início, verificar cada passo da pesquisa e comentar cada frase do texto; tudo isto, frequentemente, por telefone e depois das 22 horas).

Neste evento recordamo-la e exprimimos em uníssono a grande admiração, a sincera gratidão e o elevado apreço.

Talvez uma simples palavra possa dizer muito: Obrigado!

 

Manuel Célio Conceição

Universidade do Algarve, Portugal